Felipe IV de Espanha e a Restauração Portuguesa

Primogênito homem de Felipe III de Espanha e Margarida de Áustria, Felipe IV tornou-se rei com apenas dezesseis anos de idade, assumindo um império que já se encontrava em declínio desde o fim do século anterior. Bem consciente de sua dignidade real, o monarca fora casado aos dez anos de idade com a princesa francesa Isabel, que era três anos mais velha. A união fazia parte de uma aliança cruzada com o reino vizinho; enquanto Felipe casava-se com Isabel, sua irmã Ana era enviada para ser a rainha de Luís XIII. Ambos os matrimônios não foram muito bem-sucedidos; enquanto Ana demorou mais de vinte anos para ter um filho, Isabel não possuía influência sobre o marido, mesmo após dar à luz um herdeiro em 1629, já que o rei era politicamente dominado por seu favorito Gaspar de Guzmán y Pimentel, o conde-duque de Olivares.

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Um jovem príncipe Felipe com sua irmã Ana, futura rainha de França

Os acordos nupciais, porém, não garantiram a paz entre Espanha e França sequer por uma geração. Rivais desde que haviam se consolidado definitivamente enquanto reinos, eles continuaram a competir pelo domínio da Europa central através de seus aliados. Em 1635, quando a França assumiu a primazia daquela que seria futuramente conhecida como A Guerra dos Trinta Anos, a Espanha viu-se subitamente sem condições de financiar uma resposta. Dependente do ouro e prata importados das Américas desde o reinado anterior, o governo espanhol acabou forçado a distribuir os custos do conflito entre os diversos domínios do império. Ambicionando restaurar o império espanhol à sua antiga glória, Felipe IV concordou com o aumento da pressão fiscal-militar proposto por Olivares. O baque seria rapidamente sentido por Portugal, que não muito tempo antes perdera cargas valiosas durante combates com os holandeses, além de ter sido forçado a conceder um empréstimo à Espanha.

Neste contexto, ocorreriam as Alterações de Évora em 1637. Também conhecida como Revolta do Manelinho ou Manuelinho, elas foram um movimento popular que se espalhou em Portugal após surgir em Alentejo, chegando até mesmo em Lisboa, em protesto contra a degradação das condições de vida após o aumento dos impostos. Impotente perante a violência da revolta, a nobreza portuguesa teve que aguardar o socorro de tropas espanholas, que sufocariam a rebelião.

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Felipe IV em sua maturidade

Mesmo que as grandes Casas não tivessem apoiado o movimento, as Alterações marcaram o início da consagração de uma crescente insatisfação de grande parte de aristocracia com os reis Habsburgo, a quem eles acusavam de tirania por descumprir as decisões das Cortes de Tomar, que haviam possibilitado a ascensão de Felipe II ao trono décadas antes. Neste sentido, o pacto entre rei e reino fora rompido quando este começara a desrespeitar a independência de Portugal, indicando para o cargo de vice-rei nobres que não eram seus parentes próximos, o que começara a ocorrer durante o reinado de Felipe III.

O gatilho para o golpe de Estado foi disparado após as tropas portuguesas serem convocadas para lutarem na campanha contra a Catalunha, quando um hesitante D. João, duque de Bragança – neto da duquesa D. Catarina – foi convencido a participar. Em 1º de dezembro de 1640, os chamados 40 Conjurados invadiram o paço onde se encontrava a duquesa de Mântua, vice-rainha de Portugal, e Miguel de Vasconcelos, seu secretário, que durante a luta foi lançado da janela para sua morte perante o olhar horrorizado da duquesa. Ali mesmo, seria aclamado D. João IV, o primeiro rei da dinastia de Bragança.

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Representação da aclamação de D. João IV

Para saber mais:

http://madmonarchist.blogspot.com.br/2010/06/monarch-profile-king-philip-iv-of-spain.html

http://www.jornalmapa.pt/2013/03/26/a-revolta-do-manuelinho/

MACEDO, Newton de. História de Portugal – Volume II: De D. João I aos Filipes. Lisboa: Lello e Irmão, 1936.

COSTA, Fernando Dores. A Guerra da Restauração – 1641-1668. Lisboa: Livros Horizonte, 2004.

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